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domingo, 15 de outubro de 2017

A casa paroquial e o cabaré

Ciduca Barros

A consideração que devemos ter aos mais idosos, às pessoas respeitáveis e à nossa pátria, anda em baixa neste País. 
Não é nostalgia de um velho, mas, no tempo em que pedíamos a bênção aos nossos pais, os jovens eram realmente mais respeitosos. 
Alguém já me disse que o desrespeito começou quando aboliram, dos bancos escolares, o ensino de Educação, Moral e Civismo, tese com a qual eu concordo cabalmente. 
Esta história que passo a contar, nos dias atuais não aconteceria. 
Por quê? 
Porque ela é antiga e, naquele tempo, o respeito ainda dava as cartas.    
Certa madrugada, vindos de uma farra noutra cidade, alguns rapazes aportaram numa determinada cidade do Seridó.  
– Onde encontrar um bar funcionando a essa hora num lugarejo destes? – um deles indagou. 
– Eu acho que só vamos encontrar funcionando o cabaré da cidade – vaticinou outro. 
– E como achar o cabaré, se não conhecemos nada aqui e não temos a quem perguntar? – outro, mais racional, perguntou.  
Naquele momento, apareceram algumas velhinhas se dirigindo para a missa das cinco da matina.  
– Vou perguntar àquelas senhoras! 
– Você está maluco? Que falta de respeito, cara. Essas senhoras têm a idade de nossas avós! – advertiu o racional. 
– Eu sei disso, mas sei como perguntar. 
Eram três velhinhas, cabelos encanecidos, com véus nos ombros e terços nas mãos enrugadas. 
– Bom-dia, senhoras! Alguém pode me informar onde mora o senhor vigário? – perguntou o farrista. 
– Ele mora naquela rua - apontou uma das velhinhas. 
– Na rua do cabaré? – interrogou o rapaz, demonstrando uma indignação que não existia.  
Você está louco, meu filho? O cabaré fica naquela outra rua – também indignada, apontou a idosa noutra direção.  
E foi assim que aqueles rapazes pândegos, mas respeitosos, chegaram calmamente ao cabaré daquela cidade. 

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