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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

De cabra que foi preso

JESUS DE RITA DE MIÚDO


– Pereira, ô, Pereira – gritava Claudinho de Tantico, visivelmente embriagado na frente da Delegacia de Polícia, chamando por um dos soldados e tombando de um lado para o outro.
E como o policial não saía logo da cadeia, os gritos se refaziam cada vez mais altos. Até que outro militar acordou e resolveu investigar de onde vinha a gritaria.
– Que merda é essa, rapaz? – perguntou o guarda pela janela frontal do prédio, pondo um boné na cabeça e ajeitando o cinto.
– Quero ser preso – respondeu Claudinho com decisão.
– Que pôrra é, hômi? Por que você quer ser preso?
– Porque eu sei que serei mesmo, então já ‘tou me adiantando – argumentou Claudinho subindo os batentes da cadeia.
– Ei, pode ir parando por aí. Não vou lhe prender, não.
– Ora não! Vai que eu quero. Já ‘tou bebo, quero ser preso e abra logo essa porta.
– Hômi, vai curtir tua cachaça noutro canto, rapaz! – irritou-se o guarda fechando a janela.
Claudinho continuou insistindo, gritando, esmurrando a porta, promovendo uma arrelia enorme, reafirmando que queria ser preso.
O soldado abriu a porta, pegou-lhe pelo braço e foi deixá-lo no outro lado da rua, com puxões, empurrões e impaciência indisfarçada.
– Mas o cabra vê cada coisa mesmo. Vá pra casa e deixe de perturbação, ‘tá ouvindo? – ordenou soltando-lhe.
Claudinho aprumou-se, cambaleou mais um pouco e quando percebeu que o policial já entrava de volta na cadeia gritou com força:
– Meganha frouxo! Nem pra me prender serve. Mas eu vou ser preso de todo jeito!
Aí, foi demais! O soldado freou no salto do coturno chega riscou o chão de preto. Calado estava, calado ficou quando pegou Claudinho pela parte de trás da gola da camisa e calado continuou quando fechou o cadeado da cela, com “o elemento” jogado dentro.
Cerca de meia hora depois o delegado chegou e soube do episódio.
Cerca de uma hora depois uma mulher bateu palmas na frente da delegacia. Queria falar com o delegado. Foi introduzida na sala da autoridade e questionada sobre o que queria.
– Doutor Delegado, sabe Claudinho, aquele que o povo chama de Beto Barbosa? – perguntou ao delegado. Mas, sem dá tempo de resposta continuou: – Pois aquele bicho ruim bebeu e comeu desde ontem no meu bar e saiu sem pagar. Então, eu vim aqui pro senhor mandar pelo menos prender ele.
Neste instante se ouviu de dentro da cela:
– Ih, carecou sua “otára”. Eu cheguei primeiro.

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