Ciduca Barros
Quem não tem as suas boas lembranças do circo e dos seus personagens?
O contorcionista, o trapezista, a equilibrista, o globo da morte e o impagável palhaço ficaram na nossa memória para sempre.
O circo talvez seja um dos espetáculos mais antigos e difundidos no mundo, pois ele continua aí, mais vivo do que nunca.
Não importa o tamanho da cidade brasileira, todas já receberam um circo em suas ruas e seus habitantes, principalmente as crianças, continuam fascinados pelos espetáculos circenses.
Portanto, viva o circo!
O circo foi palco desta história que tem uma coincidência que a tornou tragicômica.
O menino era rebelde, traquinas, levado, teimoso, indisciplinado, impossível (como dizia a finada minha mãe), aliás, sintetizando: ele era uma peste.
E todos esses adjetivos eram usados pela população da cidade, quando se referia àquele moleque.
Eis que chegou um circo na sua cidade, revolucionando tudo e todos, principalmente a garotada, inclusive o nosso endiabrado personagem.
Ele, entretanto, além de ficar excitado com a possibilidade de assistir aos espetáculos circenses, também resolveu ganhar um dinheirinho extramesada, usando o circo. Aquele garoto só usava a imaginação para “aprontar”.
E o moleque fazia o quê? Simplesmente, burlando os seguranças, ele passava por baixo do arame que cercava o circo, entrava por baixo da lona, saía na porta principal, recebia o ingresso, vendia lá fora e repetia tudo outra vez.
A operação foi um sucesso até a noite em que os seguranças o pegaram em flagrante.
Deram-lhe uns safanões e, o que mais o revoltou, tomaram o seu dinheiro.
Ele ficou possesso com o que lhe fizeram.
Estava liso, com as orelhas ardendo, com a sua operação desbaratada e o seu amor-próprio ferido.
E resolveu, mesmo na desvantagem, ir à desforra.
Com o espetáculo em plena atuação, ele catou uma banda de tijolo, escolheu aleatoriamente o perfil de uma coluna vertebral que estava encostada na lona, na parte dos poleiros, e a atirou com toda a força que sua raiva podia impulsionar.
Em seguida, se mandou para casa.
No dia seguinte, ele acordou e viu uma cena que o assustou.
O seu pai andando atravessado e puxando uma perna.
O velho estava mais torto do que o gato da Zinebra.
Lembra-se do desenho de um gato preto e torto que havia no rótulo da garrafa de Zinebra? Não? Lembra-se daquele personagem de Victor Hugo, Quasímodo, do famoso romance O Corcunda de Notre-Dame? O velho amanheceu mais torto do que Quasímodo.
– O que aconteceu, papai? – perguntou timidamente.
– Um filho da puta me acertou uma pedra, ontem à noite, no poleiro do circo – respondeu o tortuoso pai.
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