Indumentária e moda
em Caicó de outrora
Quem disse que no nosso tempo, lá no Seridó, apesar das dificuldades nas comunicações, a nossa juventude não acompanhava a moda do resto do país? Gostaria de relembrar a indumentária daquela nossa áurea época, o que vestíamos, o que calçávamos, o uso, a moda em si.
Naquele tempo toda roupa, fosse masculina ou feminina, era confeccionada por costureiras, alfaiates e até por nossas mães que liam atentamente as revistas de figurinos da época (A Cigarra era a preferida de minha mãe).
No fim da década de 1950, começou para nós uma verdadeira revolução na arte de se vestir. Com a criação do Brim Coringa, surgiram as calças rancheiras (Topeka e Farwest), paralelamente com o surgimento dos calçados Congas e Bambas, todos da São Paulo Alpargatas S.A.
Depois surgiram as famosas calças compridas tipo Lee americanas, masculinas e femininas, que foram uma verdadeira coqueluche e o desejo de consumo de toda juventude daquele tempo. Foi o nosso primeiro contato com a modernidade em matéria de roupas, foi um verdadeiro esplendor, era o “american way of life” que víamos na tela do Cinema Pax de seu Clóvis entrando em nossas vidas.
A Calça Lee feminina era usada bem apertadinha. Lembro-me de minha irmã deitada e eu tentando fechar o zíper. É preciso registrar aqui o heroísmo feminino quando se trata de moda, pois esta calça apertada surgiu na época da confortável e folgada moda saco (“tubinho”, “melindrosa”).
Os Congas e Bambas – que eram um charme quando calçados com uma “meia de nylon” –, posteriormente foram desbancados pelos tênis Kichute e All Star. E por falar de meias de nylon, é necessário lembrar o grande defeito que elas tinham: eram muito lisas e os sapatos as engoliam. O cara saía de casa e quando chegava ao destino não se viam mais os canos das meias. Era um desconforto, um vexame. Porém, este problema foi logo solucionado com o surgimento de um novo tipo que chamávamos de “espumas de nylon”.
Com o surgimento das “camisas de Jersey” (Volta ao Mundo), fechou-se o círculo e já podíamos trajar uma indumentária que não era de confecção doméstica e saíamos para um bom “assustado” em casa de pessoas amigas, para dançarmos ao som das músicas dos discos (Long Plays) de Waldir Calmon – “Chá Dançante”, “Para Ouvir Amando”, “Feito Para Dançar” e “Uma Noite no Arpège” –, tocados numa vitrola portátil Motorola ou mesmo numa radiola ABC.
Já nos anos 1960, com a chegada da Jovem Guarda, tivemos a imitação dos Tremendões. Copiamos o modelo das jaquetas e das calças bocas de sino que, combinadas com um sapato do salto alto, pensávamos que nos deixavam muito mais glamorosos.
Quanto à indumentária feminina, acredito que não tenha percorrido um caminho tão diferente da nossa, masculina. Desde a moda saco, confeccionada também domesticamente, até o prêt-à-porter da atualidade, muita coisa aconteceu, mas limitado por minha falta de conhecimento nesse tema feminil, abstenho-me de comentar.
Entretanto quero registrar o que presenciei vendo as minhas irmãs, namoradas e flertes (paqueras). O mesmo tecido sintético (nylon) que revolucionou a roupa masculina, também beneficiou sobremaneira a moda feminina. Antes eu via minhas irmãs soterradas debaixo de calcinhas (elásticos ou botões) de tecido (morim ou cambraia de algodão), anáguas, combinações, cintas e sutiãs com enchimento. Depois as vi aposentarem tudo aquilo, quando da chegada das roupas íntimas da DeMillus. Que alívio deve ter sido.
Vi as moças usando “laquê em spray” e deixando seus penteados armados por mais tempo. Tive uma namorada que, apesar de ter um lindo e liso cabelo, usava uma peruca que a deixava mais bonita e que me levou a casar com ela. Vi também as jovens da minha época começarem a usar cílios postiços que, na minha opinião, deixavam-nas mais “vamp”.
As novidades chegavam tão celeremente que as meninas que as adotavam passaram a ser consideradas “pra frentex”.
Haja nostalgia.
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
Caro Sr. Ciduca, maravilhoso seu artigo. Parabéns.
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