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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Das homenagens a quem merece



A semana retrasada, que chegou a 21 de julho, trouxe a notícia pesarosa da partida de Paulo Frassinete Bezerra, médico, escritor, acadêmico, um dos mais ilustres das terras potiguares. Além de sobrinho, pelos laços que nutro no Acari de nossas raízes, sou um de seus seguidores. Aliás, com a ciência e permissão dele que, em vida, prefaciou meu modesto livro, lançado em março último, assim como, me oferecia informações, livros e outras considerações sobre temas e personalidades do Seridó.
Sendo assim, e contando com o apoio de amigos comuns, encaminhei para o Jornalista Woden Madruga, na Tribuna do Norte, o texto seguinte que foi publicado no dia 25 de julho de 2017 e registra, em síntese, os momentos vividos após o anúncio do falecimento, inclusive, algumas das justas homenagens recebidas por Paulo Balá. Como todos sabem, Woden Madruga abriu a coluna do domingo na Tribuna do Norte para as cartas dos sertões do Seridó, gênero literário que consagrou Paulo Balá como um dos maiores do Brasil.
“Senhor Jornalista,
Não sei se é atrevimento, mas amigos comuns me disseram que podia lhe enviar um breve relato dos derradeiros momentos, no meio de nós, do corpo de Paulo Balá, meu tio-avô da raça Maranganha, e seu amigo.
Como você bem sabe, Paulo Frassinete Bezerra, nascido no Acari de nossas raízes no ano de 1933, dia 16 de julho, partiu para o horizonte que a fé nos faz enxergar na manhã do dia 21 de julho de 2017, última sexta-feira. No mesmo dia, ainda em Natal, pranteado por muitos amigos e parentes, ouviu, de algum lugar, o Padre João Medeiros, intelectual com laços no Seridó de Jucurutu, fazer eloquente discurso diante de seu corpo insepulto. Palavras que confortaram a família e evidenciaram o protagonismo histórico de Paulo Balá.
Na madrugada seguinte, já dia 22, partimos para o Seridó. A dor da família aumentava a cada quilometro. No corredor das terras de Silvino Adonias Bezerra (04/07/1891 – 21/04/1959), pai de Paulo, de quem herdou o já quase sobrenome “Balá”, não entramos a direita, como era esperado, na direção da casa sobre as pedras construída para guardar gente e memória na Fazenda Pinturas. O carro passou direto em busca do velho Acari.
Lá chegando tinha música bem bonita, mas saudosa, em frente à Igreja Matriz e do Grupo Tomaz de Araújo, executada pela Filarmônica Felinto Lúcio Dantas. A banda faz parte da vida da gente, desde a felicidade de festas e de celebrações até a serenidade da alma diante do crepúsculo da vida. E, aqui para nós, em Acari, de modo especial, a banda toca para os ouvidos, mas invade a alma.
Saudado pela música e pelas lágrimas dos presentes, ele chegou ao Acari de todos os seus passos e antepassados. Ficou no Grupo Escolar até a hora da missa. Muitos foram dizer a ele, e aos que ficaram, da estima imensa que sentiam e da orfandade inaugurada em relação a inúmeros assuntos que eram de seu domínio, além da presença amena, prosa de qualidade, acervo singular de coisas, temas, pessoas e histórias que faziam o elo entre o universo rural antes vivido e a cultura urbanizada que se vive.
A hora correndo e logo o sino – com dobras, repiques e sinal como recomenda a Santa Madre Igreja – avisou que a missa ia começar. Quando o corpo conduzido pelos filhos, netos e sobrinhos deixa o Grupo e se apresenta ao patamar, além da filarmônica, o aguardavam muitos vaqueiros, novos e velhos, alguns dos quais, estimulados por ele, cultivam a tradição sertaneja do encouramento. Não foi fácil segurar o galope do choro quando se juntaram, na mesma cena, diante da Igreja, o sino, a banda, o cavalo, o povo 
e a reza.
Paulo Balá e o editor Abimael Silva, no lançamento
do livro Do Seridó que a gente ama
A Missa bem dita e bem cantada emoldurada pela tristeza, mas encantada pela serenidade do templo que abriga a fé católica do Acari, foi toda para ele, de corpo presente, com todos os bancos cheios de gente, inclusive, amigos de longe que, pela solidariedade, se juntaram aos de perto para dizer a Zélia, Cassiano, Flávia, Micaela e Julião, genros, noras, netas e netos, que a dor da saudade era dividida por muitos.
No campo santo, depois das homenagens devidas, ele foi abraçado pela terra, na mesma cova onde seus pais – Silvino e Maria de Jesus – repousaram seus corpos mortais. Manifestou em vida que assim seria e ninguém se afastou do seu desejo. A terra de seus antepassados e afetos, o abraçou com respeito, sabendo que ali não era o fim… Além da fé que motiva a esperança, Paulo Balá, se juntando aos de seu bem-querer que já partiram, viverá a imortalidade na memória de muitos, nas letras que deixou bem escritas e na resistente história sertaneja que, ladeira acima ou abaixo, vai um dia contar a vida dele como um dos maiores, de todos os tempos, do Seridó que a gente ama.
Com atenção e a estima da família, receba meus cumprimentos.
Fernando Bezerra

Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó e escreve às segundas-feiras.

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