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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Da dúvida de Jucurutu



Alguns historiadores mencionam Antonio Batista dos Santos como sendo o fundador de Jucurutu por ter sido o construtor da Matriz de São Sebastião. Antonio era filho de João Batista dos Santos e Maria Marcelina da Conceição, núcleo relevante da família Batista do Seridó. Ocorre que existem dúvidas quanto ao fato de que seja ele o fundador de Jucurutu. Dúvidas, aliás, bem fundadas.
Informações e evidências recolhidas pelo Padre João Medeiros Filho, um dos maiores intelectuais nascidos no chão do Seridó, demonstram que Jucurutu tem uma história anterior digna de registro e sua fundação deve ser creditada aos padres jesuítas. Aliás, tese colocada por Nanael Simão de Araújo no livro “Jucurutu... antes que a história se esqueça” que, inclusive, transcreveu alguns dos argumentos colecionados pelo acadêmico Padre João Medeiros: “A notícia mais contundente que nos leva a afirmar que Jucurutu foi fundada pelos jesuítas, tendo como patrono São Miguel, é a encontrada em Serafim Leite, onde diz: ‘Perseguido, os nossos (termo como os jesuítas chamam os confrades) se refugiaram numa pequena aldeia, administrada pela companhia (de Jesus) que do Arraial (Açu) dista cerca de dez léguas, à margem de um rio, povoado de Piranhas, que banha igualmente o citado arraial”.
Jucurutu, no sertão do Seridó
Padre João Medeiros também lembra a devoção dos jesuítas aos anjos, protetores que a Igreja Católica cultua, razão pela qual o ilustre pesquisador registra que a primeira devoção de Jucurutu foi a São Miguel Arcanjo, tanto é que, por muitos anos, o lugar foi conhecido como “São Miguel de Jucurutu”. Antonio Batista dos Santos, anos depois, conseguiu mudar o orago de devoção, passando o padroeiro a ser São Sebastião. Mesmo assim, ainda hoje, no mês de setembro, a Festa de São Miguel é celebrada como co-padroeiro da cidade. Em relação ao nome da cidade, a mudança ocorreu no ano de 1938. 
Ademais, como lembra ainda a pesquisa de Nanael, outros fatos evidenciam a vida jucurutuense antes da Igreja de São Sebastião, dentre os quais, o registro de Câmara Cascudo que, desde 1767, o Capitão Manoel Antonio das Neves tinha terras localizadas entre o “Saco da Inês e a Serra do Jucurutu”; que no período de 1797 a 1807 há registros de casamentos ocorridos na Fazenda Jucurutu; que somente por volta de 1862 foi iniciada a construção da Igreja de São Sebastião, sob o patrocínio de Antonio Batista dos Santos. 
Assim sendo, a tese do respeitável Padre João Medeiros, acompanhada pela pesquisa de Nanael Simão, parece ter maior razoabilidade, ao afirmar que o fundador de Jucurutu não foi Antonio Batista dos Santos, apesar de ter sido o doador do terreno e principal construtor da Igreja, marco importante da história jucurutuense. Aliás, sobre a Capela, as obras “tiveram início em anos de 1862, sendo a mesma construída por ordem do senhor Antonio Batista dos Santos, em terreno por ele doado para constituição do patrimônio da referida capela. A doação para o patrimônio da Capela de São Sebastião foi legalizada em 16 de agosto de 1862, pelo tabelião público da cidade de Caicó, José Maria Gonçalves Vale, cuja escritura de doação resistiu ao tempo”, conclui a anotação de Nanael Simão de Araújo.
Pelo relato, os fundadores de Jucurutu, como presença portuguesa no lugar, foram os padres jesuítas, membros da conhecida Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534 por Inácio de Loyola, há muito reconhecido como santo pela Igreja Católica. Chegaram ao novo mundo para uma missão de desbravamento, catequese e alfabetização. Se tivessem permanecido no Seridó que a gente ama, certamente, teríamos tido muito mais frutos de sua ação educadora.

Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó e escreve às segundas-feiras.

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